[PT]
Sinopse: Zé do Burro é um homem bem humilde, que vive no estado da Bahia com à sua mulher, Rosa. Após ter as suas preces atendidas, ele precisa pagar a promessa que fez: carregar uma grande (e pesada) cruz de madeira durante um longo trajeto até chegar a uma igreja específica e deixar o material sagrado nas mãos de um padre local.
Uma estória de fé, no meio do caos comportamental dos seres humanos. Este é basicamente um resumo poderoso do que é visto nesta trama, que tem como protagonista um homem de pensamento simples, sem muita instrução de vida, mas sempre muito verdadeiro com tudo o que ele se propõe a fazer. Dentro desta redoma narrativa, o filme traz muitos temas importantes, que são discutidos com bastante humor, leveza e uma pitada de drama bastante peculiar quando é observada por uma perspectiva mais introspectiva. Um marco do cinema brasileiro, que precisa ser mais reconhecido.
Quando o seu animal de estimação (um burro) é atingido por um raio, Zé fica desesperado ao ver o seu amigo sofrendo e decide fazer uma promessa para que ele seja salvo. Depois que as suas preces são atendidas, ele decide doar metade do seu sítio, e logo em seguida, partir em uma jornada com sua esposa Rosa para entregar uma cruz como uma forma de agradecimento. O grande problema é que a cruz é grande, pesada e acaba chamando muito à atenção de quem os vê fazendo esse trajeto, mas tudo fica bem pior quando o padre da igreja escolhida não decide aceitar o presente dele.
O motivo? Zé do Burro fez à promessa em um terreiro de Candomblé, e como a prática religiosa envolvendo a macumba era extremamente mal vista naquela época, houve uma resistência natural (e esperada) do padre, e também das outras pessoas que estavam ao redor e faziam parte da comunidade local. A partir deste conflito, o filme aposta em diferentes tipos de situações para criar um roteiro muito inteligente e bastante afiado no que diz respeito as críticas da sociedade que predominavam naquela época. Um filme da década de 60, mas que continua sendo extremamente atual e pontual.
Nosso Cinema
Leonardo Villar e Glória Menezes dão vida ao casal Zé do Burro e Rosa, que partem juntos em uma aventura que eles jamais poderiam prever o final. Seus respectivos personagens são bem construídos e complementares para que todos os acontecimentos sejam bem conectados. No meio do caminho deles, muitos problemas envolvendo não só um olhar limitado sobre à religião, mas também, alguns problemas com a polícia e os políticos dessa cidade. Trazendo a cativante atmosfera para o roteiro, as interpretações da dupla são o grande destaque dentre todas as performances deste elenco.
Um outro personagem bastante interessante (e importante) na trama é o padre Olavo (interpretado com competência por Dionísio Azevedo), porque ele representa tudo o que há de preconceituoso dentro da esfera religiosa. Sendo uma figura de liderança para os fiéis da igreja local, ele acaba espalhando (ainda que inconscientemente) à aversão ao ato de fé de um homem bastante simples, que só queria ver à sua promessa sendo devidamente paga como forma de agradecer à graça recebida. O personagem é um contraponto fundamental para dar mais peso, forma e cor ao roteiro.
Muitas situações inusitadas acabam acontecendo no meio dessa jornada, incluindo um possível affair entre Rosa e um famoso cafetão local. Neste ponto, essas situações mais cômicas acabam pavimentando também o caminho para que a atmosfera dramática do filme ganhe um espaço cada vez maior, trazendo mais elementos complementares para que o roteiro seja sustentado para além do seu aspecto central (que por si só, obviamente não iria sustentar um filme com pouco mais de 90 minutos de duração). Uma coleção de abordagens bem executadas e com teores bastante reflexivos.
Dirigido com uma maestria invejável por Anselmo Duarte (que entrega aqui um dos melhores trabalhos de toda à sua carreira), o filme ganha um tom atemporal em detrimento de tudo o que é retratado na tela. Ao lado de Dias Gomes (que aliás, é o autor da peça homônima na qual este filme foi baseado), uma crítica ácida sobre o comportamento das pessoas sobre o que não lhe é comum é jogada na tela com muita habilidade, deixando nas suas entrelinhas mensagens que são muito mais complexas do que elas aparentam ser (mas é preciso o olhar mais atento para perceber tudo isso).
Em meio à sua visão cultural, religiosa e política dos anos 60, O Pagador de Promessas foi o primeiro filme brasileiro a concorrer na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar, e até hoje, é o único filme brasileiro a vencer o prêmio da Palma de Ouro, no tão cobiçado Festival de Cannes. Não há dúvidas de que esse projeto é um dos projetos de ouro do nosso cinema, onde o que era feita era cinema de verdade, com um olhar mais assíduo sobre o que era importante ser discutido mesmo quando tempos culturais, religiosos e políticos mais sombrios predominavam em nosso território.
Synopsis: Zé do Burro is a very humble man, who lives in the state of Bahia with his wife, Rosa. After having his prayers answered, he needs to pay off the promise he made: carry a large (and heavy) wooden cross for a long journey to reach a specific church and leave the sacred material in the hands of a local priest.
A story of faith, in the midst of the behavioral chaos of human beings. This is basically a powerful summary of what is seen in this plot, which has as its protagonist a simple-minded man, without much education in life, but always very true to everything he sets out to do. Within this narrative framework, the movie brings up many important themes, which are discussed with a lot of humor, lightness and a very peculiar pinch of drama when observed from a more introspective perspective. A milestone in Brazilian cinema, which needs to be more recognized.
When his pet (a donkey) is struck by lightning, Zé is desperate to see his friend suffering and decides to make a promise so that he will be saved. After his prayers are answered, he decides to donate half of his farm, and then go on a journey with his wife Rosa to deliver a cross as a form of gratitude. The big problem is that the cross is big, heavy and ends up attracting a lot of attention from those who see them making this journey, but everything gets much worse when the priest of the chosen church doesn't decide to accept his gift.
The reason? Zé do Burro made the promise in a Candomblé terreiro, and as the religious practice involving macumba was extremely frowned upon at that time, there was natural (and expected) resistance from the priest, and also from other people who were around and took part. of the local community. Based on this conflict, the movie focuses on different types of situations to create a very intelligent and very sharp script in terms of the criticisms of society that prevailed at that time. A movie from the 60s, but which remains extremely current and punctual.
Leonardo Villar and Glória Menezes bring to life the couple Zé do Burro and Rosa, who set off together on an adventure that they could never predict the ending of. Their respective characters are well constructed and complementary so that all events are well connected. Along the way, there were many problems involving not only a limited view of religion, but also some problems with the police and politicians in this city. Bringing a captivating atmosphere to the script, the duo's interpretations are the highlight of all the cast's performances.
Another very interesting (and important) character in the plot is Father Olavo (played competently by Dionísio Azevedo), because he represents everything that is prejudiced within the religious sphere. Being a leadership figure for the faithful of the local church, he ends up spreading (albeit unconsciously) the aversion to the act of faith of a very simple man, who only wanted to see his promise being duly paid as a way of thanking the grace received. The character is a fundamental counterpoint to give more weight, shape and color to the script.
Many unusual situations end up happening in the middle of this journey, including a possible affair between Rosa and a famous local pimp. At this point, these more comical situations also end up paving the way for the movie's dramatic atmosphere to gain ever greater space, bringing more complementary elements so that the script is sustained beyond its central aspect (which in itself, obviously, is not would sustain a movie just over 90 minutes long). A collection of well-executed approaches with very reflective content.
Directed with enviable mastery by Anselmo Duarte (who here delivers one of the best works of his entire career), the movie takes on a timeless tone to the detriment of everything portrayed on screen. Alongside Dias Gomes (who, incidentally, is the author of the play of the same name on which this movie was based), an acidic criticism of people's behavior and what is not common to them is played on the screen with great skill, leaving between the lines messages that are much more complex than they appear to be (but you need a closer look to understand all of this).
Amidst its cultural, religious and political vision of the 1960s, The Given Word was the first Brazilian movie to compete in the Best International Film category at the Oscars, and to this day, it is the only Brazilian movie to win the Palma de Ouro, at the much coveted Cannes Festival. There is no doubt that this project is one of the golden projects of our cinema, where what was made was real cinema, with a more assiduous look at what was important to be discussed even when darker cultural, religious and political times predominated in our territory.
Posted Using InLeo Alpha